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Remédio para coice

Numa conversa de hoje com um tema que, volta e meia, vem às prosas com amigos, lembrei-me de uma colega, a Luiza, com quem trabalhei há décadas, e sua frase “fazer bem pra burro é coice!”. 
Essa nunca me saiu da cabeça; me foi útil quando pintava a decepção com pessoas às quais me dediquei ou pensei ter me dedicado. Porém, levou bastante tempo para que eu entendesse totalmente o que ela queria dizer.  Assim como num texto que li certa vez, a Luiza estava me ensinando que há almas que preferem o escuro, e teimar demais em puxar-lhes pela mão é correr o risco de perder a hora da partida e, com elas, ficar na penumbra.

Eu iniciava o entendimento de algo muito importante:  respeitar o tempo e a vontade do outro, não importando se me parecesse que ele fazia a compra parcelada de dor, embalada a vácuo. Essa descoberta não mudou o que penso sobre solidariedade e fico feliz em poder passar esse valor a meus filhos.

Penso que, se podemos fazer algo bom por alguém, façamos, ainda que seja escutá-lo apenas (se é que “apenas” cabe depois de escutar, tarefa tão complicada em nossos tempos). Um auxílio que parece simples para nós pode ser muito importante para outra pessoa. Sempre faço as mesmas perguntas a quem prefere usar o “coice de burro” como pretexto para não ser solidário e já tive muitas respostas, mas nenhuma ainda me convenceu a parar de perguntar.

A quem não crê numa força superior criadora do universo, e considerando a maravilha que é esse universo, não parece estranho que estejamos aqui apenas para cuidar de nós mesmos e aguardar o fim da existência? 

E, considerando a existência dessa força (chamemos de Deus ou como quisermos), não seria esquisito que Ele fizesse o homem apenas para cuidar de seu próprio umbigo ou, no máximo, ajudar o próximo com o que lhe sobra, sem prejuízo de sua humana agenda, finanças, de um esforço de qualquer natureza ou, ainda, para deixar sorridente a própria vaidade?  Deus, tendo feito projeto assim, seria bem ruim de estratégia, não sacaria muito da relação custo- benefício.

Não sou religiosa, nem uma grande estudiosa seja lá do que for, mas não é preciso ser para entender que eu sou aquilo que eu como, acredito e faço. E nem é preciso ir longe para contribuirmos com nossa atenção e respeito, para sermos úteis.

Aqueles que estão mais próximos de nós são o melhor e mais importante público para se praticar a solidariedade, um santo remédio para dor de coices antigos.

Então, que tal um bocadinho desse bálsamo agora mesmo?

Jucélia Zardini

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